quinta-feira, 8 de março de 2012

Performance in (de)composição

A primeira intervenção/composição artística na rua, experienciada pelo Coletivo Quando Coisa, foi denominada “Performance in (de)composição” e realizada no dia 17 de agosto de 2011, quarta-feira, às 14 horas. Esta tinha como princípio a noção de corpografia como resistência à espetacularização da cidade e a composição/decomposição do corpoespaço da rua.
As duas performers, Thálita Motta e Bárbara Carbogim, iniciaram seu trajeto no Largo da Alegria. Ao caminhar empurravam um carrinho de compras e adquiriam os resquícios deixados na Rua São José (Centro comercial de Ouro Preto), representando alegoricamente o grande fluxo em função do consumo material e arquitetural de tal rua, onde o objeto era incorporado na obra como extensão do corpo, modificando seu status, permitindo a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo OITICICA (2003).
O tempo/espaço da performance foi determinado pelo trajeto percorrido na rua São José, onde a sinalização de seu início era a retirada dos sapatos vermelhos, descalçando-se para a rua, permitindo o contato/ contágio com o corpo desprotegido e o término era sinalizado pelo calçar dos mesmos sapatos, mantendo o distanciamento cotidiano da pele com o chão.
Nesse primeiro momento, os resquícios da rua eram re-significados como objetos de desejo e de valor para as performers, adquiridos e empilhados no carrinho sem a pretensão do uso, apenas do acúmulo. Esses resquícios são antes de tudo, rejeitos de pessoas e da arquitetura mediante a ação do tempo, também as insistentes plantas que nascem entre as frestas dos paralelepípedos e o desconhecido mundo dos objetos escorridos ao bueiro.


Quando a ação do acúmulo havia sido contemplada, era iniciada a segunda etapa da performance, a composição/decomposição do corpoespaço, em que o corpo era complemento das formas e frestas da cidade, a incorporando, ou seja, dando à cidade o caráter de corpo e ao corpo o status de lugar, pois, destituía sua função de espetáculo (não-lugar) e das fronteiras do corpo biológico, ou seja, a pele perdia sua função primeira.
Assim como o objeto inicial da ação, o carrinho de compras, perdia a dimensão corporal e ganhava o sentido de instalação (objeto de arte), ou seja, havia se tornado também um resquício/rejeito ao ser desligado do corpo das performers, adquirindo potência apenas enquanto obra independente.





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