quarta-feira, 21 de março de 2012

Queria sustentar a leveza do ser até que pesou






“Finalmente, a viagem conduz à cidade de Tamara. Penetra-se por ruas cheias de placas que pendem das paredes. Os olhos não vêem coisas, mas figuras de coisas que significam outras coisas.”         
Cidades Invisíveis 




Intervir/performar/compor/voar

Acontece um corpo assim, social, que leva em si o peso de ser corpo social contemporâneo.
Este propõe um experimento para a busca da leveza do ser e sua possibilidade de voar, vir a ser assim leve junto a balões como extensão do seu corpo. 1 corpocombalões.
Traça-se uma cartografia afetiva do ser corpo em relação aos novos, velhos corpos da cidade.
Este corpo torna-se sobrevivente no estado líquido das coisas em tempos de Biopolítica que assim, sobre patins pensa trazer a fluidez deste corpo como opção,mas se vê aprisionado a vagar a todo tempo semprefluidoatépesar, que dói,pesa, sente e se desfaz, uma base em 8 rodas, não há sólidos, há solidão.
No andar,pesa, perde seus sopros de vida.

NÃO HÁ BALÕES,NÃO A LEVEZA, HÁ O PESO DE SER ser em SOBREVIDA.
No encontro com outros corpos, firma-se como corpo em descoberta, este troca, propõe, é movido, provocado, pelo BOM DIA, consumo, das lojas,da vida, que ri e pesa, compõe o silêncio e o caos da cidade, vem a ser objeto de significação irracional, do sentir a poesia cansada da vida que come.









Em Viçosa - MG  11/02/2012  - Quando Coisa

Post de Everton Lampe

quinta-feira, 8 de março de 2012

Performance in (de)composição

A primeira intervenção/composição artística na rua, experienciada pelo Coletivo Quando Coisa, foi denominada “Performance in (de)composição” e realizada no dia 17 de agosto de 2011, quarta-feira, às 14 horas. Esta tinha como princípio a noção de corpografia como resistência à espetacularização da cidade e a composição/decomposição do corpoespaço da rua.
As duas performers, Thálita Motta e Bárbara Carbogim, iniciaram seu trajeto no Largo da Alegria. Ao caminhar empurravam um carrinho de compras e adquiriam os resquícios deixados na Rua São José (Centro comercial de Ouro Preto), representando alegoricamente o grande fluxo em função do consumo material e arquitetural de tal rua, onde o objeto era incorporado na obra como extensão do corpo, modificando seu status, permitindo a incorporação do corpo na obra e da obra no corpo OITICICA (2003).
O tempo/espaço da performance foi determinado pelo trajeto percorrido na rua São José, onde a sinalização de seu início era a retirada dos sapatos vermelhos, descalçando-se para a rua, permitindo o contato/ contágio com o corpo desprotegido e o término era sinalizado pelo calçar dos mesmos sapatos, mantendo o distanciamento cotidiano da pele com o chão.
Nesse primeiro momento, os resquícios da rua eram re-significados como objetos de desejo e de valor para as performers, adquiridos e empilhados no carrinho sem a pretensão do uso, apenas do acúmulo. Esses resquícios são antes de tudo, rejeitos de pessoas e da arquitetura mediante a ação do tempo, também as insistentes plantas que nascem entre as frestas dos paralelepípedos e o desconhecido mundo dos objetos escorridos ao bueiro.


Quando a ação do acúmulo havia sido contemplada, era iniciada a segunda etapa da performance, a composição/decomposição do corpoespaço, em que o corpo era complemento das formas e frestas da cidade, a incorporando, ou seja, dando à cidade o caráter de corpo e ao corpo o status de lugar, pois, destituía sua função de espetáculo (não-lugar) e das fronteiras do corpo biológico, ou seja, a pele perdia sua função primeira.
Assim como o objeto inicial da ação, o carrinho de compras, perdia a dimensão corporal e ganhava o sentido de instalação (objeto de arte), ou seja, havia se tornado também um resquício/rejeito ao ser desligado do corpo das performers, adquirindo potência apenas enquanto obra independente.





quarta-feira, 7 de março de 2012

Exercícios para ser e não ser

"Exercícios para ser e não ser" é um experimento cênico performático, que tem como base do trabalho uma re-ação dos artistas sobre a as obras "Hamlet" de Shakespeare e "Hamlet Máquina" de Heinner Müller. Com a encenação propomos uma leitura do "ser ou não ser" na contemporâneidade, a partir de experiencias pessoais dos atores e do trabalho desenvolvido dentro da sala de ensaio.

Construído a partir do processo colaborativo o que buscamos com este trabalho, esta ligado as relações entre o que é ser e não ser; pensamos que estes estejam conjugados, devido as diversas formas de acondicionamento e e padronização das relações e das ações dos corpos na vida cotidiana. Neste sentido cada artista trás para o processo de criação questões pessoais e coletivas - levando em consideração que o enunciado é sempre coletivo, ainda que emitido por uma singularidade solitária - a fim de expor estas través da cena. 

"morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/
morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/
morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/morto/vivo/
morto/vivo/morto/vivo/Morto: fim, zero, cova, frio absoluto, ades, estagnação absoluta. Eu estagnado.
Eu privilegiado." 

"Isso respira, isso aquece, isso come, isso caga, isso fode. Uma máquina-órgão é conectada a uma máquina-fonte: esta emite um fluxo que a outra corta. A morte como um intervalo entre mim e mim. Morrer, dormir só isso. Morrer (deixar de ser) voltar a ser."
"Eu não represento Hamlet. Eu não represento Ofélia. Não recebo o fantasma de meu pai. Não sou a filha controlada e seduzida e ensandecida nem a suicida. Não sou o príncipe perturbado pelo pai, pelo tio e nem pela mãe. Sou e não sou Hamlet/Ofélia. Eu sou a pergunta. SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO."





 "Eu sou...

Eu não sou...
Eu sou Hamlet
Eu sou Ofélia
Eu não sou Ofélia
Eu não sou Hamlet
Eu não sou..."






"Eu sou Ofélia. Aquela que o rio não conservou. A mulher na forca. A mulher com as veias cortadas. A mulher com a cabeça no fogão a gás. Ontem deixei de me matar. Estou só com meus seios, minhas coxas, meu ventre. Rebento os instrumentos do meu cativeiro – a cadeira, a mesa, a cama. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar."

"Na solidão dos aeroportos Eu respiro aliviado
Eu sou Um privilegiado
O meu nojo
É um privilégio
Protegido por muralhas
Arame farpado prisão
Não quero mais comer beber respirar amar uma mulher um homem uma  criança um animal. Não quero mais morrer. Não quero mais matar.
Arrombo a minha carne lacrada. Quero habitar nas minhas veias, , na medula dos meus ossos, no labirinto do meu crânio. Retiro-me para minhas vísceras. Sento-me na minha merda, no meu sangue.
N’algum lugar são rompidos ventres para que eu possa morar na minha merda. N’algum lugar ventres são abertos para que eu possa estar sozinho com meu sangue. Meus pensamentos são chagas em meu cérebro. O meu cérebro é uma cicatriz. Quero ser uma máquina. Braços para agarrar pernas andar nenhuma dor nenhum pensamento."

Atores/Performers: Bárbara Carbogim, Everton Lampe e Marcelo Fiorin
Som: Henrique Rocha
Direção: Paulo MaffeiAssistência: Thálita Motta